quinta-feira, dezembro 30, 2004

Ano Novo

O que dizer ao amanhecer
de um novo dia, novo ano?
O que falar pra quem se ama
o que esperar do que virá?

Que a gente possa trocar amor
te dar o meu, você, o teu
se tens o frio, troco por calor
você é tudo do que eu sou.

Pedir um mundo sem ganância
onde haja sempre, só esperança
de ser igual a uma criança
que por pouco faz festança

Pedir pra toda nossa gente
uma vida mais, bem mais decente
fazer ao outro, menor a dor
trazer no peito somente amor.

Sebastião Siqueira

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Que é - Simpatia

Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia - meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é quase amor!

Casimiro de Abreu

terça-feira, dezembro 07, 2004

Sólo le pido a Dios

Sólo le pido a Dios
que el dolor no me sea indiferente,
que la reseca muerte no me encuentre
vacío y solo, sin haber hecho lo suficiente.

Sólo le pido a Dios
que lo injusto no me sea indiferente,
que no me abofeteen la otra mejilla,
después que una garra me arañó esta suerte.

Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.

Sólo le pido a Dios
que el engaño no me sea indiferente,
si un traidor puede más que unos cuantos,
que esos cuantos no lo olviden fácilmente.

Sólo le pido a Dios
que el futuro no me sea indiferente,
desahuciado está el que tiene que marchar
a vivir una cultura diferente.

Sólo le pido a Dios
que la guerra no me sea indiferente,
es un monstruo grande y pisa fuerte
toda la pobre inocencia de la gente.

León Gieco

Ps.:A letra fica maravilhosa na voz de Ana Belén

segunda-feira, novembro 22, 2004

Lua

        Hoje a Lua parece brincar de esconde-esconde... Meio tímida, resolve dar as caras aos poucos, revelando-se por entre as densas copas das árvores. Lá longe, parece que me olha, espiando para dentro da janela. Talvez me guarda. Talvez vela meu sono dia pós dia e, quando nova, fica louca em agonia por não poder velar-me. Talvez traz os meus sonhos, talvez me deixa inquieta, não permitindo que eu cerre os olhos um segundo sequer. Talvez me hipnotiza, talvez me prende aos braços teus, controlando a brisa da madrugada que me acaricia.
        E sem que se perceba, aquela que brincava, tímida e meiga, sobe às alturas e impera a noite. E governa estrelas e ofusca estrelas e derruba estrelas e... se esconde. A Lua sem vergonha, de vergonhas mil se esconde por anular tantas estrelas que só querem solitárias brilhar sua morte enfim. Mas ainda assim vigia... Mas agora, espia como quem tenta descobrir porque tanto encaro com olhos de quem recrimina, de quem indaga, de quem desconfia, de quem filosofa, de quem não acredita e sente.
        E quando mais uma vez dá as caras, parece que percebo vultos, parece que observo anjos, parece que voam em curvas sinuosas, parece que se juntam à janela, parece que circundam essa Lua grande. E agora já nem mais sei se os anjos velam-me com a Lua, ou se da Lua velam-me os anjos.

Débi H.
Março de 2004.


Posted by Hello

sexta-feira, novembro 19, 2004

Talvez possa ser chamado de conto...

Conto de verão


        Não era uma viagem internacional, nem uma daquelas em que se vai pra balada noite após noite. Não... também não foi com toda a galera reunida. Era a mesma praia do outro verão, do outro e do outro também. As pessoas também eram praticamente as mesmas de verões passados. Em geral, minhas férias costumam ser assim: um lugar paradisíaco, lindos dias de verão, mas poucas emoções.
        Mas daquela vez, apenas um fim de tarde, aquele fim de tarde, fez daquela viagem a melhor de todas as minhas viagens de verão (pelo menos até agora). Nós sempre passávamos o entardecer à beira mar, mas nunca tínhamos visto nada tão lindo. O Sol estava se pondo do lado oposto ao mar e o céu parecia um arco-íris completo, com cores que iam do amarelo ao azul, passado pelo laranja, vermelho, rosa e lilás. E a Lua... ah... a Lua... era cheia e parecia nascer linda e dourada de dentro das águas. Nenhum de nós jamais a vira surgir tão grande, lenta e nitidamente, preparando-se para tomar seu posto, enquanto o sol baixava sua guarda. Quando o azul marinho já tomava conta do céu e a Lua não mais refletia o dourado do Sol, fomos embora.
        Tarde da noite. Voltamos à praia. Agora, o céu, negro, estava salpicado de estrelas e a Lua, ainda enorme, estava prateada. Seu reflexo formava um desenho no mar, que achávamos que só existia em filmes e pinturas. Para completar a noite? Pizza, Coca-Cola e nem mais uma palavra, aquela já era a melhor viagem de verão dos últimos tempos, que certamente jamais sairá da memória.

Débi H.
2003

terça-feira, novembro 09, 2004

Estrela maior

Foi quanto o alívio invadiu a alma
e a paz tomou conta do corpo.
Foi então, que os corpos respiraram
e a vida mais uma vez seguiu seu fluxo.
E mesmo que os dias não fossem os mesmos,
e os soluços houvessem gritado aos ventos
que o mundo perdera um'alma
e o Universo ganhara uma estrela,
a vida seguiu...
Nunca se viu tamanho sonho, sono, descanso
e apesar da pa, jamais tantas lágrimas
rolaram pelas faces.
Foi então, que pela primeira vez as vi deixarem
um sorriso de lembranças nos mais variados olhos e lábios.

Débi H.
Setembro de 2003

sexta-feira, novembro 05, 2004

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!


Álvares de Azevedo


Flores no Cemitério,
de Alfredo Ventura de Souza - 2003   
Posted by Hello

quinta-feira, outubro 21, 2004

Sobre Versos...

Faço versos
sim, faço versos
sou réu confesso
faço versos
quando tropeço no universo

Faço versos de bobo
e não há acerto que me faça
não errar denovo

Faço versos
porque posso
se não faço
me dá um troço

Faço versos
por nada
por pirraça
é a minha cachaça

Faço veros
porque quero

Se neste mundo tudo
tem um número
o meu é zero


Alexandre Brito

segunda-feira, outubro 18, 2004

Lua Luna Luar

Se fosse a vida um ciclo de Luas
que surgem, que crescem, que somem
minguando até não dar mais.
Fosse a vida Lua Luna Luar,
seria o mundo em minha volta a Via Láctea.
Infinita. Mas não escura, obscura, imensa,
que toma o espaço de intenso mistério.
Eu, a Lua. Cometas, estrelas, astros:
o mundo, que circula em minha volta em
seu ciclo "Lunar"?


Débi H.
Novembro de 2002.

Escrito de improviso no Abbey, numa bela noite de verão. "Desafio" do Tiago ou do Ike... não lembro.

segunda-feira, setembro 27, 2004

Poema que aconteceu

Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.

A mão que escreve este poema
não sabe o que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.

Carlos Drummond de Andrade



sexta-feira, setembro 24, 2004

Nostalgia

Ainda aprendo a viver hoje...
Se não vivo em função do amanhã
(“...é preciso ter cuidado pra
mais tarde não sofrer...”),
é porque estou embriagada pela nostalgia,
revirando o ontem.
“– É preciso saber viver...”
um dia, talvez, eu aprenda e viva.


Débi H.
Setembro de 2004



PS.: Pra alguns vai fazer bastante sentido... Isso se houverem "alguns" espiando o blog...

sexta-feira, setembro 17, 2004

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.


Cecília Meireles

quinta-feira, setembro 09, 2004

Sobre uma noite de verão...

Se regido ou não pelo destino,
é fato que o mundo gira...
E é certo que de volta em volta,
inventa, experimenta.
E sem que ninguém entenda,
em uma noite fria, faz horas vivas.
E não une apenas corpos
pelas bocas que se beijam,
une almas (?)
(que dão a impressão de fundirem-se
no singelo abraço ou pelos
olhos de intensa luz,
que falam mais que as próprias palavras).
E como das voltas surgiu o inesperado,
as horas viraram uma noite,
e as idéias, enfim,
mais um poema.


Débi
Janeiro de 2004

segunda-feira, agosto 30, 2004

Um Beijo

Um minuto o nosso beijo
Um só minuto, no entanto
Nesse minuto de beijo
Quantos segundos de espanto!
Quantas mães e esposas loucas
Pelo drama de um momento
Quantas milhares de bocas
Uivando de sofrimento!
Quantas crianças nascendo
Para morrer em seguida
Quanta carne se rompendo
Quanta morte pela vida!
Quantos adeuses efêmeros ,
Quanta loucura de Deus!
Que mundo de mal-amadas
com as esperanças perdidas
Que cardume de afogadas
Que pomar de suicidas!
Que mar de entranhas correndo
De corpos desfalecidos
Que choque de trens horrendo
Quantos mortos e feridos!
Que dízima de doentes
Recebendo extrema-unção
Quanto sangue derramado
Dentro do meu coração!
Quanto cadáver sozinho
Em mesa de necrotério
Quanta morte sem carinho
Quanto canhenho funéreo!
Que plantel de prisioneiros
Tendo as unhas arrancadas
Quantos beijos derradeiros
Quantos mortos nas estradas!
Que safra de uxoricidas
A bala, o punhal, a mão
Quantas mulheres batidas
Quantos dentes pelo chão!
Que monte de manuscritos
Atirados nos baldios
Quantos fetos nos monturos
Quanta placenta pelos rios!
Quantos mortos pela frente
Quantos mortos à traição
Quantos mortes de repente
Quantos mortos sem razão!
Quanto câncer sub-reptício
Cujo amanhã será tarde
Quanta tara, quanto vício
Quanto enfarte do miocárdio
Quanto medo, quanto pranto
Quanta paixão, quanto tudo!
Tudo isso pelo encanto
Desse beijo de um minuto:
Desse beijo de um minuto
Mas que cria, em seu transporte
De um minuto, a eternidade

E a vida, de tanta morte



Vinícius de Moraes

terça-feira, agosto 24, 2004

Mais uma vez... Shakespeare

Ross - "(...) estais vendo? Os céus, agitados pela ação de um homem, ameaçam seu sangrento palco. Já é dia, segundo o relógio, mas a sombria noite estrangula a lâmpada errante. Será que reina a noite, ou o dia sente vergonha de que as trevas cubram a face da terra sepultada, quando a viva luz deveria beijá-la?"
William Shakespeare - Macbeth - Ato Segundo - Cena IV


Macbeth - "(...) Triste necessidade que nos obriga por prudência a lavarmos nossas honras nas correntes da adulação, fazendo de nossos rostos máscaras de nossos corações, para esconderem o que são!"
William Shakespeare - Macbeth - Ato Terceiro - Cena II


Mais Shakespeare... Um pouquinho mais...

segunda-feira, agosto 23, 2004

Sobre a vida (E a falta dela)....

Navalhas machucam
Rios são úmidos
Ácidos mancham
E drogas causam câimbras

Armas são ilegais
Laços afrouxam
Gás cheira mal
É melhor viver.


Dorothy Parker

quinta-feira, agosto 19, 2004

Lágrimas de Anjo


Chuva: sinal de anjos magoados.
Um dia chorei minhas lágrimas tal qual os anjos choram a chuva.
De nada adiantou...
Tudo permaneceu exatamente como antes de ter meu corpo encharcado
e a alma mergulhada em mim.
Nem mesmo dos anjos, com quem compartilhava o ritual,
vieram consolos.
Desisti. Segui o caminho.
E quando cheguei, percebi que não me deixariam parar.
Devia chorar mais temporais
e se realmente a decência me acompanhasse,
teria de chorar por Ela.
Tudo o que queria era a certeza de que Os esqueceria,
ou de que não deixariam eu me afogar.



Débi
Agosto de 2004.

terça-feira, agosto 17, 2004

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?



Cecília Meireles

quinta-feira, agosto 12, 2004

O Assassino era o Escriba

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da primeira conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possesivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tenteou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conetivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia matei-o com um objeto direto na cabeça.



Paulo Leminski





segunda-feira, agosto 02, 2004

Inspiração durante uma aula de datilografia. Desconto pra mim, que só tinha 14 aninhos..


A dúvida

O cair da chuva
O soprar dos ventos
O estouro dos trovões
O clarão de um relâmpago

Junto ao bater da máquina
Junto à solidão
Algo que vira angústia
E faz doer qualquer coração

Solidão ou tristeza?
Tristeza ou amor?
Amor e problemas...
Que só causam mais dor

Terá isso cura?
Passageiro isso será?
Persistirá no coração?
Ou partirá?

Porque escrevo?
Não sei
Me sinto assim?
Acho que não
Ou será que sim?



Débi
Novembro de 1998

quarta-feira, julho 28, 2004

Perseguição


Há muito
O Poema
me escapa.

Corre rente a rimas pobres
salta sobre metáforas
esgueira-se dentre veludosas sinestesias
esconde-se em reticências...

Abrevia-se sob esquecimentos
e árvores temporais sem folhas.

(Sinto que sorri
de minha incompetência)

Sigo
com pena
tentando.



Fabio Rocha
01 de Julho de2004



quinta-feira, julho 22, 2004

Como Dizia o Poeta

Quem já passou por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá para quem se deu
Para quem amou, para quem chorou, para que sofreu
Ai, que nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada não

Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão
Abre os braços meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão

Vinícius de Moraes


Não concordo com tudo o que o Poeta diz, mas adoro o poema...


segunda-feira, julho 19, 2004

Outra Janela


A janela de minha vida
por onde passam
meus amores
meus horrores.

É por si
meu objeto de desejo.

Desejos meus
que flutuam em meus sonhos.

A flor no chão,
as folhas secas,
o sol no céu,
o pico do monte,
a liberdade.

Eu livre.
Eu leve.
Eu solta.

Só eu.
Por mim.
Com meus desejos.
Em minha janela.
De liberdade.



Débi
Abril de 2002

segunda-feira, julho 12, 2004

Dúvidas sobre existir...

"Penso, logo existo."

Renée Descartes



"Sonho, logo existo."
Johann August Strendberg

Sufoco

  Lembrem de mim

como de um
que ouvia a chuva
como quem assiste missa
como que hesita, mestiça
entre a pressa e a preguiça.

Paulo Leminski

terça-feira, julho 06, 2004

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou no mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, julho 02, 2004

Sobre fazer poemas...

"Um bom poema se faz bem rápido, sem pensar.
Poema com cérebro, dá azar."


Autor desconhecido.



quarta-feira, junho 30, 2004

Sobre o tempo...

La Persistencia de la Memoria - Salvador Dalí


Tempo
E lá se vai o tempo...
Passando, passando,
consumindo, agonizando,
mostrando verdades o tempo todo.
Verdade de estarem todos crescendo,
vivendo, envelhecendo...
E até de que um dia estaremos morrendo.
Tétrico?
Talvez um pouco cedo...
Quem sabe... um dia o tempo pare
e nos deixe assim...
vivendo à toa, sem nem mesmo lembrar
que o tempo não passa, voa...
que o relógio não pára,
e que nossas vidas não estacionam,
para que deixemos de apenas existir
e possamos viver, tal como nos contos de fadas...
Felizes para sempre...

Débi
Maio de 2002

Uma antiga percepção sobre as lágrimas...


Lágrimas

Lágrimas de pedra,
sonhos de cristal
destroçados pelo frio e cortante
vento da madrugada.
Pedras que destroem,
aniquilam.
Arrancadas do coração
com dor, amor e ódio
pelo sonho não mais sonhado,
porém profundamente guardado.
Melancolia, depressão...
Soluços sufocam,
as lágrimas matam...
E eu... apenas disfarço.

Débi
Setembro de 2001


segunda-feira, junho 21, 2004

Não resisti... Mais um pouquinho de Shakespeare


Ri das chagas que jamais foi ferido! Mas que silêncio! Que luz brilha através daquela janela! É o Oriente e Julieta é o sol! Surge, claro sol, e mata a invejosa lua, já doente e pálida de desgosto, vendo que tu, sua serva, és bem mais linda do que ela! Não a sirvas, porque é invejosa! (...) Duas das mais resplandescentes estrelas de todo o céu, tendo alguma ocupação, suplicaram aos olhos dela que brilhassem em suas esferas até que elas voltassem. Que aconteceria se os olhos dela estivessem no firmamento e as estrelas na cabeça? O fulgor de suas faces envergonharia aquelas estrelas, como a luz do dia a de uma lâmpada! Seus olhos lançariam da abóbada celeste raios tão claros através da região etérea que cantariam as aves acreditando chegada a aurora!...
Romeu para Julieta - Ato Segundo - Cena II

Ser poeta é...

Pintar palavras sem tintas,
cantar sem melodia.
Esculpir letras,
tocar notas sem som algum.
Mergulhar na noite
sem medo da solidão.
Se embebedar com a luz das estrelas,
se recompor com a luz do luar.
Viver o dia, sem compromisso algum.
Desfrutar de tudo,
apenas seguir seu rumo.
Amar o dia e amar a noite.
Cada pedra e cada flor,
cada homem, cada mulher,
cada animal e cada pedacinho do céu.
Escrever sem nada dever,
escrever por simples amor,
mesmo que sejam poemas do dor...
Débi
Fevereiro de 2000


segunda-feira, junho 14, 2004

Ando lendo Shakespeare... Bastante profundo... Vale a pena...

(...)Ai! Que amor, cuja vista é sempre vendada, encontre, sem os olhos, caminho franco para sua vontade!(...) Aqui o ódio dá muito que fazer, porém o amor mais ainda. Oh! amor rixoso! Oh! ódio amoroso! Oh! todas as coisas primeiramente criadas do nada! Oh! pesada ligeireza! Séria vaidade! Informe caos de sedutoras formas! Plumas de Chumbo, fumaça luminosa, flama gelada, saúde eferma, sono em perpétua vigília, que não é o que é! Tal é o amor que sinto,sem sentir em tal amor, amor nenhum. (...)
Romeu - Ato Primeiro - Cena I



(...)O amor é fumaça formada pelos vapores dos suspiros. Putrificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes. Que mais ainda? Loucura prudentíssima, fel que nos abafa, doçura que nos salva.(...)
Romeu - Ato Primeiro - Cena I



Shakespeare - Romeu e Julieta


domingo, junho 13, 2004

Bem legal...

All your eyes have ever seen,
All you`ve ever heard,
Is etched upon my memory,
Spoken through my words.

All that I take with me,
Is all you`ve left behind,
We`re sharing one eternity,
Living in two minds.

Linked by an endless thread,
Impossible to break...

John Petrucci




Nada original, mas... já evoluí desde lá.

Nunca

Nunca chorei tanto
Eu nunca sorri tanto
Nunca dei tanta explicação
Nem fui tão liberal
Eu nunca me envolvi tanto
Nunca falei tão sério
Ou de tão fundo do meu coração
Nunca acreditei tanto
Nem confiei tanto
Eu jamais
Fui tão feliz
Mas não sei porque
Eu já podia imaginar...
Nada é tão perfeito
E não foi
Mas vai ficar na lembrança
Eu nunca vou esquecer

Débi
Janeiro de 2000

quarta-feira, junho 09, 2004

Bem antiga... E engraçadinha...

Cansei

Sabe...
Cansei.
É...
Cansei mesmo.

Desmoronei,
caí,
rolei morro abaixo,
desisti.

Como se não bastasse,
tropecei,
rolei mais um pedaço
e caí outra vez.

Mas levantei,
me reergui,
recuperei minhas forças
e hoje estou aqui!

Débi
Setembro de 1998

terça-feira, junho 08, 2004

Foi por aqui que eu comecei...

O Último Andar

No último andar é mais bonito:
do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.

O último andar é muito longe:
custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.

Todo o céu fica a noite inteira
sobre o último andar.
É lá que eu quero morar.

Quando faz lua, no terraço
fica todo luar.
É lá que eu quero morar.

Os passarinhos lá se escondem,
para ninguém os maltratar:
no último andar.

De lá se avista o mundo inteiro:
Tudo parece perto no ar.
É lá que eu quero morar:
no último andar.

Cecília Meireles