quinta-feira, setembro 30, 2010

Saudade

Não assisto o dia nascer pelo cansaço que me toma.
Acordo quando os pássaros já pararam de cantar,
sentindo o peso da tua falta e a saudade do beijo no amanhecer.
Tua ausência me acompanha passo a passo.
Na lembrança, o passado pouco distante me alcança a cada hora.
A noite cai e te tenho mais perto em meus pensamentos.
Fecho os olhos e te encontro em meus sonhos.

Débora Hübner
Setembro 2010

quinta-feira, agosto 12, 2010

Dos sonhos realidade

Tua ausência preenche meus dias
Transformo lembrança em sonhos
Quero dos sonhos realidade...
Débora Hübner

quarta-feira, agosto 04, 2010

...

         "Amar: Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer... E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei, e da minha boca fechada nasceram sussurros e palavras mudas que te dediquei....O amor é quando a gente mora um no outro."

domingo, agosto 01, 2010

Falling Slowly

I don't know you
But I want you
All the more for that
Words fall through me
And always fool me
And I can't react
And games that never amount
To more than they're meant
Will play themselves out

Take this sinking boat and point it home
We've still got time
Raise your hopeful voice you have a choice
You've made it now

Falling slowly, eyes that know me
And I can't go back
Moods that take me and erase me
And I'm painted black
You have suffered enough
And warred with yourself
It's time that you won

Take this sinking boat and point it home
We've still got time
Raise your hopeful voice you had a choice
You've made it now

Take this sinking boat and point it home
We've still got time
Raise your hopeful voice you had a choice
You've made it now
Falling slowly sing your melody
I'll sing along


Glen Hansard/Markéta Irglová

quinta-feira, junho 24, 2010

Saudade

       O tempo na tarde se arrasta e os ponteiros do relógio ecoam na sala vazia. Pela janela observo o céu de "vanila sky" tingido em tom alaranjado. Era digno de registro final em foto.
       Já imaginava o quarto sem móveis, a cozinha apenas com a pia e o relógio de som melancólico sozinho na sala.
      Mas não era isso que importava agora, porque o tempo que até então voava dentro daquelas paredes não fora vazio. Cada descoberta, cada intimidade, cada brincadeira, o medo superado e cada lágrima que surgiu fez de mim uma mulher completa. As trocas e os sentimentos se materializaram em momentos infindáveis e inesquecíveis. Na memória nunca haverá o apartamento vazio e sim uma vida onde e quando fui completa.
Débora L. Hübner

quinta-feira, junho 03, 2010

Despedida

          A vista do por-do-sol no aeroporto azul de Porto Alegre era linda naquele dia. O vento soprava como sempre e lembrei de quando senti ali mesmo, pela primeira vez, que pertencia ao vento. Mas ninguém vai ao aeroporto azul de Porto Alegre  ver o sol se pôr em um dia triste de junho.
         Desta vez os transuentes eram muitos, as filas eram longas e não havia um Papai Noel. Vi muitos abraços, beijos, apertos de mão e muitos "boa viagem" e "até breve". Nunca vou me acostumar com despedidas, principalmente daquelas das quais faço parte...
         No abraço apertado esqueci o mundo e tudo em volta pareceu parar. Eu pude sentir os corações batendo, minhas lágrimas correndo, pude escutar o que sempre quiz, ouvir um suspiro emocionado, espiar um olhar triste, mas não consegui dizer uma palavra sequer. E a gente sente que os segundos daquele abraço deveriam ser eternos, como eles são na nossa lembrança.
         Mas o relógio continuou rodando e o avião esperando a hora de partir. Então uma força pareceu separar aquele abraço que não deveria ter fim. E me sinti como uma criança levada do colo de quem ela ama.
         Eu o perdi de vista, perdi o chão sob os meus pés e não sabia mais que caminho seguir. Não queria ir embora, pois o dia terminaria e pela manhã eu saberia que não foi um sonho, foi mesmo mais uma despedida triste no aeroporto azul de Porto Alegre.
         Mas agora a vida segue e espero pelo aeroporo que possa ser palco de um reencontro.

Débora L. Hübner

domingo, maio 16, 2010

Os degraus

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Mario Quintana (Baú de Espantos)

domingo, abril 25, 2010

Sobre um mar de rosas que arde


Sobre um mar de rosas que arde
Em ondas fulvas, distante,
Erram meus olhos, diamante,
Como as naus dentro da tarde.

Asas no azul, melodias,
E as horas são velas fluidas
Da nau em que, oh! alma, descuidas
das esperanças tardias.

Pedro Killkerry

sábado, abril 10, 2010

Tempestade

No mar aberto o porto seguro chama.
E leva pelo mar adentro
passo por passo.
Entre a tempestade e o mar
entre os raios e ondas
corre ao porto seguro.
Alí sente-se completa.
Débora L. Hübner

quarta-feira, abril 07, 2010

O vento noroeste

        Noroeste que se pôs desde dez horas de anteontem a soprar sobre a cidade, secando o coração das gentes. O vento desceu subitamente do céu da madrugada, onde brilhava, numa lucidez de entreloucura, grande como uma lágrima da noite, a desvairada estrela da manhã. Primeiro numa rajada fria, que trazia na epiderme farfalhante um pouco do éter das altas regiões de onde chegava. E logo tornou-se morno, depois aqueceu. E partiu à solta, crestando a face lisa da aurora, fazendo crepitar as folhas das árvores, evaporando o mar que inaugurou de verde o dia nascente. A mim secou-me os olhos, a boca e a alma perseguida de insônia, e me tornou áspero o lençol, e me trouxe lembranças secas de vida. Assisti ao dia nascer como se visse um diamante cortar vidro e ficasse inelutavelmente a respirar a poeira implacável do carvão remanescente.        Depois dormi e sonhei. Mas meus sonhos tinham também uma secura de cal. Vi se estorcer em chamas o antigo cadáver de uma moça que morreu tísica e se chamava Alice. Vi homens se arrastando atrás de mulheres sobre um chão de giletes. Vi troncos musculares de fícus arfando em dispnéias vegetais. Vi se queimarem atmosferas enormes em clarões de cloretila. Depois acordei com a boca seca e uma sede de chupar limão verde.
        De saída para o Centro, pude sentir o mal que o Noroeste, esse Leviatã dos ventos, estava fazendo à cidade. Na esquina de minha casa tinha desaparecido uma criança, que a mãe buscava em gestos de Guernica. No ônibus (pegara um marcado "expresso") várias pessoas tinham-se esquecido que esses carros são diretos e quiseram saltar em Copacabana, mas o chofer não deixou porque é proibido. A palavra "proibido" ganhou uma tal secura, ao Vento Noroeste, que por um instante eu tive a visão do homem carioca afogado em cinzas. Não podia saltar onde queria, mesmo pagando. A companhia de ônibus não deixava. Precisaria pegar outro ônibus, ou então um lotação, para voltar. Nesse meio tempo já tinham saído várias discussões e na avenida Atlântica houvera um desastre com dois ônibus vermelhos da linha Ipanema: um deles chegara até a beira do passeio, quase a cair na areia, e tinha uma cara sedenta, como se tivesse querido se afogar. Na Glória, a carcaça de outro ônibus que ardera amontoava-se no asfalto. Aquilo lembrou-me, em grande, um esqueleto incinerado que vi no cinema, saindo de um forno, num dos campos de concentração nazista. De vinda para a redação, vi dois homens brigando corpo a corpo. Agrediam-se como cães danados e depois um pegou uma pedra para arrebentar a cabeça do outro, e só por um acaso não acertou.
        E agora, escrevendo esta crônica que é a seca expressão da verdade, eu vejo que o Noroeste está querendo secar até a tempestade que se anuncia na tarde erma. Não, que o Vento Noroeste não seque a tormenta que há de desafogar a cidade. Vinde, trovões mensageiros; rasgai o céu, relâmpagos! Que as águas de um novo dilúvio desabem sobre a cidade angustiada e encharquem a terra de lama e as árvores de seiva. Que desçam os raios e sangrem o flanco flácido dos morros e que se rejuvenesça o coração dos homens. Que o ar se rompa em rajadas frescas e se repousem os cabelos das mulheres, frementes de eletricidade.
        Que deixem de ranger os papéis da burocracia, sacados pelo Vento Noroeste. Que pare, que pare imediatamente o sopro desta bisnaga de ar quente a soprar sobre a dentina dolorida da cidade. Que venha o Azul, o Azul, o Azul, o Azul!
Vinícius de Moraes
Para Viver um Grande Amor

quinta-feira, abril 01, 2010

4º Motivo Da Rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzidas,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles

quinta-feira, março 18, 2010

Sinto

Jamais pedi pelos sentimentos
e sempre foram os mais verdadeiros
Confusos, profundos, intensos, espelhos dos meus
E vêm à tona com pequenos gestos
Algumas palavras, mesmo que não faladas
Surge na distância a certeza de que foi e é real
Ou de que o sonho pode ser vivido quando realidade.
Débora L. H./ Março de 2010

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Bobo Poema

Sincero como o sorriso de uma criança
Leve como passos de núvem
Livre como andar de balanço na praia
Intenso como deve ser um show do Metallica
Alegre como flores na primavera
Gostoso como banho de mar no verão
Poema do fundo da alma
Inesperado como ninguém pode entender
Natural como nunca foi antes
Mais bobo que o poema?
Talvez uma mulher amando.

Débora Linden Hübner

domingo, janeiro 10, 2010

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade