segunda-feira, novembro 22, 2004

Lua

        Hoje a Lua parece brincar de esconde-esconde... Meio tímida, resolve dar as caras aos poucos, revelando-se por entre as densas copas das árvores. Lá longe, parece que me olha, espiando para dentro da janela. Talvez me guarda. Talvez vela meu sono dia pós dia e, quando nova, fica louca em agonia por não poder velar-me. Talvez traz os meus sonhos, talvez me deixa inquieta, não permitindo que eu cerre os olhos um segundo sequer. Talvez me hipnotiza, talvez me prende aos braços teus, controlando a brisa da madrugada que me acaricia.
        E sem que se perceba, aquela que brincava, tímida e meiga, sobe às alturas e impera a noite. E governa estrelas e ofusca estrelas e derruba estrelas e... se esconde. A Lua sem vergonha, de vergonhas mil se esconde por anular tantas estrelas que só querem solitárias brilhar sua morte enfim. Mas ainda assim vigia... Mas agora, espia como quem tenta descobrir porque tanto encaro com olhos de quem recrimina, de quem indaga, de quem desconfia, de quem filosofa, de quem não acredita e sente.
        E quando mais uma vez dá as caras, parece que percebo vultos, parece que observo anjos, parece que voam em curvas sinuosas, parece que se juntam à janela, parece que circundam essa Lua grande. E agora já nem mais sei se os anjos velam-me com a Lua, ou se da Lua velam-me os anjos.

Débi H.
Março de 2004.


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sexta-feira, novembro 19, 2004

Talvez possa ser chamado de conto...

Conto de verão


        Não era uma viagem internacional, nem uma daquelas em que se vai pra balada noite após noite. Não... também não foi com toda a galera reunida. Era a mesma praia do outro verão, do outro e do outro também. As pessoas também eram praticamente as mesmas de verões passados. Em geral, minhas férias costumam ser assim: um lugar paradisíaco, lindos dias de verão, mas poucas emoções.
        Mas daquela vez, apenas um fim de tarde, aquele fim de tarde, fez daquela viagem a melhor de todas as minhas viagens de verão (pelo menos até agora). Nós sempre passávamos o entardecer à beira mar, mas nunca tínhamos visto nada tão lindo. O Sol estava se pondo do lado oposto ao mar e o céu parecia um arco-íris completo, com cores que iam do amarelo ao azul, passado pelo laranja, vermelho, rosa e lilás. E a Lua... ah... a Lua... era cheia e parecia nascer linda e dourada de dentro das águas. Nenhum de nós jamais a vira surgir tão grande, lenta e nitidamente, preparando-se para tomar seu posto, enquanto o sol baixava sua guarda. Quando o azul marinho já tomava conta do céu e a Lua não mais refletia o dourado do Sol, fomos embora.
        Tarde da noite. Voltamos à praia. Agora, o céu, negro, estava salpicado de estrelas e a Lua, ainda enorme, estava prateada. Seu reflexo formava um desenho no mar, que achávamos que só existia em filmes e pinturas. Para completar a noite? Pizza, Coca-Cola e nem mais uma palavra, aquela já era a melhor viagem de verão dos últimos tempos, que certamente jamais sairá da memória.

Débi H.
2003

terça-feira, novembro 09, 2004

Estrela maior

Foi quanto o alívio invadiu a alma
e a paz tomou conta do corpo.
Foi então, que os corpos respiraram
e a vida mais uma vez seguiu seu fluxo.
E mesmo que os dias não fossem os mesmos,
e os soluços houvessem gritado aos ventos
que o mundo perdera um'alma
e o Universo ganhara uma estrela,
a vida seguiu...
Nunca se viu tamanho sonho, sono, descanso
e apesar da pa, jamais tantas lágrimas
rolaram pelas faces.
Foi então, que pela primeira vez as vi deixarem
um sorriso de lembranças nos mais variados olhos e lábios.

Débi H.
Setembro de 2003

sexta-feira, novembro 05, 2004

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!


Álvares de Azevedo


Flores no Cemitério,
de Alfredo Ventura de Souza - 2003   
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