segunda-feira, julho 20, 2009

Os ombros suportam o mundo

Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond

quinta-feira, julho 09, 2009

O Quadro

Não tinha pretensão de ser artista, mas naquela manhã foi cúmplice de uma grande arte. Feito criança, pintou, bordou, posou. E como todo artista, se deixou levar pela loucura... Loucos, inconseqüentes, indignos? Naquela manhã o certo e o errado duelaram em seus inconscientes. Não se sabe se foram os olhares, o cheiro, o sorriso ou as palavras sinceras... Entre a razão e a loucura e o desejo de eternizar as horas, lhe restou pintar o quadro proibido em sua memória. De moldura da cor dos sonhos, jamais vira um quadro que espelhasse tamanha realidade.

Débora L. H./Julho de 2009.