Crédito: Lethicia Galo
O vento desceu subitamente do céu da madrugada, onde brilhava, numa lucidez de entreloucura, grande como uma lágrima da noite, a deisvairada estrela da manhã. Primeiro uma rajada fria, que trazia na epiderme farfalhante um pouco do éter, das altas regiões de onde chegava. E logo tornou-se morno. Depois aqueceu. E partiu a solta, crestando a face lisa da aurora, fazendo crespidar as folhas das árvores, evaporando o mar, que inaugurou de verde o dia nascente. A mim, secou-me os olhos, os lábios e alma perseguida de insônia. E me tornou áspero o lençol e me trouxe lembranças secas da vida. Assisti ao dia nascer como se visse diamante cortar o vidro e ficasse inelutavelmente a respirar a poeira implacável do carvão remanescente.
Vinícius de Moraes
Roberto Coutinho – “Talvez ‘vento’... inquieto, incerto, tentando sempre mudar.”
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