segunda-feira, setembro 27, 2004

Poema que aconteceu

Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.

A mão que escreve este poema
não sabe o que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.

Carlos Drummond de Andrade



sexta-feira, setembro 24, 2004

Nostalgia

Ainda aprendo a viver hoje...
Se não vivo em função do amanhã
(“...é preciso ter cuidado pra
mais tarde não sofrer...”),
é porque estou embriagada pela nostalgia,
revirando o ontem.
“– É preciso saber viver...”
um dia, talvez, eu aprenda e viva.


Débi H.
Setembro de 2004



PS.: Pra alguns vai fazer bastante sentido... Isso se houverem "alguns" espiando o blog...

sexta-feira, setembro 17, 2004

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.


Cecília Meireles

quinta-feira, setembro 09, 2004

Sobre uma noite de verão...

Se regido ou não pelo destino,
é fato que o mundo gira...
E é certo que de volta em volta,
inventa, experimenta.
E sem que ninguém entenda,
em uma noite fria, faz horas vivas.
E não une apenas corpos
pelas bocas que se beijam,
une almas (?)
(que dão a impressão de fundirem-se
no singelo abraço ou pelos
olhos de intensa luz,
que falam mais que as próprias palavras).
E como das voltas surgiu o inesperado,
as horas viraram uma noite,
e as idéias, enfim,
mais um poema.


Débi
Janeiro de 2004