sexta-feira, janeiro 20, 2006

        O vento desceu subitamente do céu da madrugada, onde brilhava, numa lucidez de entreloucura, grande como uma lágrima da noite, a desvairada estrela da manhã. Primeiro uma rajada fria, que trazia na epiderme farfalhante um pouco de éter das altas regiões de onde chegava. E logo tornou-se fria, depois aqueceu. E partiu à solta, crestando a face lisa da aurora, fazendo crespidar as folhas das árvores evaporando o mar, que inaugurou de verde o dia nascente. A mim secou-me os olhos, a boca e a alma perseguida de insônia, e me tornou áspero o lençol, e me trouxe lembranças secas da vida. Assisti ao dia nascer como se visse um diamante cortar o vidro e ficasse inelutavelmente a respirar a poeira implacável do carvão remanescente.

Vinícius de Moraes

4 comentários:

Anônimo disse...

Admirar o dia nas suas simplicidades é sempre uma experiência única, mas que muitas vezes nao temos tempo para faze-lo.
beijos menina.

Moita disse...

Debi

O Moraes é vivo agora;
a noite se esconde ao centro,
o dia expande a’urora;
a gente olha pra dentro
e ele, olha pra fora.

beijos

Moita disse...

Debi

beijo

Lendo seu blog, lembrei-me de um fato que me aconteceu a anos e que ate já havia me esquecido e resultou numa crônica que fiz.

Moita disse...

errei: há anos.

beijos