Ao meu Pai e ao Fabio.
Os transuentes eram poucos. Já era tarde no Salgado Filho, em Porto Alegre. Porém, todos diziam que é sempre cedo para despedidas. E dessa vez não parecia diferente. Nesse dia, o silêncio não me acompanhava, mas sabia que ele ainda surgiria.
Antes do embarque, pedi que subíssemos pela escada rolante. Do alto, percebi que na mesa do Café, sentava uma mulher loura, estatura média e olhos tristes. Estava só.
Não havia pôr do sol. Em verdade, não tenho certeza se algum dia houve. E apenas as estrelas não pareciam fazer sentido olhadas pelas janelas de vidro, já que a Lua se escondia no céu nublado.
Sentaram-se.
Calada, parti em busca do Papai Noel. Loja a loja, olhos atentos, busquei luzes e lágrimas. Na última vitrine o percebi imóvel. Não sorria nem se portava triste. Mas é possível que meus olhos não enxergassem além das roupas vermelhas e da barba branca. Fitei-o por alguns segundos e parti. É possível que não fosse o mesmo sobre o qual ouvi que piscava “no aeroporto azul de Porto Alegre”, mas prefiro acreditar que era.
Voltei à companhia deles e logo uma voz sonora chamou os passageiros do vôo 406. Foi então que o silêncio surgiu. Nenhuma palavra até o portão de embarque. “Te amo muito” e “Eu também te amo, boa viagem” foi tudo o que pude ouvir e dizer durante um longo abraço. O vimos partir mais uma vez.
A caminho do carro, não havia quem me seguisse pelo andar de cima, como outrora. Também não rolaram lágrimas. Imagino que estou acostumando.
Lá fora, algo me fez perceber que agora sim pertencia ao vento, cujo som era o único a quebrar nosso silêncio.
Débora H.
21 de Dezembro de 2005.