quinta-feira, junho 24, 2010

Saudade

       O tempo na tarde se arrasta e os ponteiros do relógio ecoam na sala vazia. Pela janela observo o céu de "vanila sky" tingido em tom alaranjado. Era digno de registro final em foto.
       Já imaginava o quarto sem móveis, a cozinha apenas com a pia e o relógio de som melancólico sozinho na sala.
      Mas não era isso que importava agora, porque o tempo que até então voava dentro daquelas paredes não fora vazio. Cada descoberta, cada intimidade, cada brincadeira, o medo superado e cada lágrima que surgiu fez de mim uma mulher completa. As trocas e os sentimentos se materializaram em momentos infindáveis e inesquecíveis. Na memória nunca haverá o apartamento vazio e sim uma vida onde e quando fui completa.
Débora L. Hübner

quinta-feira, junho 03, 2010

Despedida

          A vista do por-do-sol no aeroporto azul de Porto Alegre era linda naquele dia. O vento soprava como sempre e lembrei de quando senti ali mesmo, pela primeira vez, que pertencia ao vento. Mas ninguém vai ao aeroporto azul de Porto Alegre  ver o sol se pôr em um dia triste de junho.
         Desta vez os transuentes eram muitos, as filas eram longas e não havia um Papai Noel. Vi muitos abraços, beijos, apertos de mão e muitos "boa viagem" e "até breve". Nunca vou me acostumar com despedidas, principalmente daquelas das quais faço parte...
         No abraço apertado esqueci o mundo e tudo em volta pareceu parar. Eu pude sentir os corações batendo, minhas lágrimas correndo, pude escutar o que sempre quiz, ouvir um suspiro emocionado, espiar um olhar triste, mas não consegui dizer uma palavra sequer. E a gente sente que os segundos daquele abraço deveriam ser eternos, como eles são na nossa lembrança.
         Mas o relógio continuou rodando e o avião esperando a hora de partir. Então uma força pareceu separar aquele abraço que não deveria ter fim. E me sinti como uma criança levada do colo de quem ela ama.
         Eu o perdi de vista, perdi o chão sob os meus pés e não sabia mais que caminho seguir. Não queria ir embora, pois o dia terminaria e pela manhã eu saberia que não foi um sonho, foi mesmo mais uma despedida triste no aeroporto azul de Porto Alegre.
         Mas agora a vida segue e espero pelo aeroporo que possa ser palco de um reencontro.

Débora L. Hübner